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Bons dias

I

Tomou o calmante mais forte que encontrou: 2 mg. Não queria morrer. Queria só esquecer o que fora sua vida até ali. Dormiu e não se lembrou de nada até a manhã seguinte, porque memórias não se apagam com calmantes.
Acordou trôpega com o efeito do remédio, que provavelmente demoraria a passar. Mas acordou feliz, com um sol bonito na sua janela, como há muito não admirava.
Tomou seu café como de costume, sentou no quarto da mãe, como de costume e fugindo à todas as regras, abriu seu coração àquela mulher que já havia vivido mais que ela e tinha sempre algo a dizer. E disse.
Ela então se ergueu e foi tomar um banho. Um banho de alma. Vestiu um vestido de todas as cores para dizer ao dia o que esperava dele.
Foi fazer o almoço. E apesar de detestar cozinhar, o fez de todo o bom coração que tinha. E isso não é para se gabar. Tinha mesmo um coração muito bom e puro, como o de uma criança. Tinha erros infantis muitas vezes, mas nunca quisera prejudicar ninguém, nem ela mesma.

II

No dia anterior pensara em se matar, talvez o quíntuplo de calmantes a tirassem dessa vida de fracassos, sempre fora tão frágil, não seria muito difícil.
Acontece que existiam duas forças no universo que não a deixariam desistir e a fizeram desistir da ideia absurda. Na verdade nenhuma dessas forças sabe disso, saberão a partir de agora.
A primeira força ela chamava de família, que na verdade se resumia a um irmão-anjo e uma mãe-guerreira, mas esses dois eram suficientes para que ela continuasse a batalha.
A outra força eram os amigos. O número era um pouco maior que o da primeira força, talvez coubessem nos dedos de uma mão, mas eles também não mereciam que ela os deixasse, porque para ela, estes tinham sempre olhos, ouvidos, braços, ombros, amor e coração abertos. 
Não poderia abandonar tanto carinho de uma maneira tão estúpida!

III

E a partir daquele dia escreveria uma história mais bonita da que vivia até então. Houve uma morte sim, a morte do antigo eu. E houve um nascimento também. O nascimento de uma mulher com os olhos puros e infantis de sempre, mas essa mulher agora procuraria um novo emprego, se empenharia na faculdade e viveria um dia de cada vez, com toda leveza.
Se o aviador conseguiu sair do deserto com a ajuda de um pequeno, ela tinha os dois no coração e sairia de todos os desertos que viesse a enfrentar.
Sabia que a vida não seria fácil, mas seus dias, esses sim, haveriam de ser bons!



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